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sexta-feira, março 11, 2005

11-M

Há dias assim que nos ficam para sempre na memória. Sei exactamente onde estava e o que fazia no 25 de Abril, no 11 de Setembro e em mais alguns. O 11 de Março de 2004 é também um desses dias. O horror das imagens à chegada ao escritório. A preocupação de saber como estavam os amigos em Madrid. Os telemóveis que não funcionavam. A contagem dos mortos.

Faz hoje um ano que a barbárie atacou em Madrid. Simples: 10 ou 15 excrementos da raça humana ajudados por outros tantos, menos de 150 quilos de explosivos, uns tantos telemóveis e quatro carruagens desfeitas, 191 mortos, centenas de feridos e um país em estado de choque.
Três dias depois havia eleições democráticas e, provavelmente, o massacre mudou o sentido de voto a muita gente, mudando ao mesmo tempo a cor do governo (muito ajudado, diga-se de passagem, pela imbecilidade com que o governo de Aznar geriu a crise). Que gostemos mais de um governo espanhol de esquerda ou de direita é uma questão de opinião. O que não é uma questão de opinião é que o sentido de voto possa ser mudado por um ataque terrorista. Significa que a chantagem é eficaz e que o terror funciona. Preocupante.

Passado um ano reúne-se em Madrid uma Convenção Anti-Terrorista. Tinha alguma esperança que se discutisse seriamente a maneira mais eficaz de combater o terrorismo. As noticias que me chegam não prometem nada de bom. Ao lado das discussões mais “técnicas” de serviço de informação e dos apelos clássicos à união, o habitual coro do combate ao terrorismo combatendo as suas “causas”. A tese é que se não houver guerra no Iraque, se não houver problema palestiniano; se não houver miséria; se não existirem todas as injustiças e desigualdades que fazem o mundo, então o terrorismo deixará de ter razões para existir. Será mesmo assim ? Não estou muito convencido. Alguém acreditará que todos os conflitos da humanidade vão desaparecer de repente? Ou as injustiças, ou as desigualdades ? e mesmo se isso fosse possível, por qualquer milagre extraterrestre, quem poderá garantir que desaparecerão todos os que têm um ódio de morte à democracia? Se as causas do terrorismo fossem as apontadas, há muito que teríamos um terrorismo africano ou cubano, por exemplo. As causas do terrorismo estão enraizadas na vertigem do poder individual de dominar os outros e na mesma demência que nos dá ditadores e assassinos em série.
Não quero dizer com isto que não se deva tentar resolver as misérias do mundo. Obviamente que temos a obrigação de encontrar uma solução para a Palestina, ou para o Iraque ou para tantos outros. O que quero dizer é que explicar o terrorismo pela sociologia é a mesma linha de raciocínio que leva a que um criminoso seja visto apenas como uma vitima da sociedade. E desculpabilizá-lo.
O criminoso que ordena um massacre como o de Madrid (sim, ordena, porque nem sequer tem a coragem de se matar no acto) é tão abjecto como outro indivíduo que comete um assassínio premeditado. Não há que “compreeendê-lo”. Há que o prender e julgar. Para os outros, os que se suicidam a mando, apenas há que sentir desprezo. O caminho para o “paraíso” deveria ser solitário.
O monge budista Quang Duc imolou-se pelo fogo em Saigão em nome de uma causa. Fê-lo sozinho. Mesmo que o acto seja absurdo, pelo menos é digno e motivo de admiração.

Sei que, por vezes, a fronteira entre a guerra de libertação e o terrorismo parece ténue. Mas só não a vê quem não quer ver. Os tchetchenos podem combater o exército russo em nome da independência, o que não podem é atacar teatros e escolas. A ETA atacava militares, policias e ministros, passou a fazer massacres depois da democracia estar consolidada. O IRA até pode ter sentido como eco de uma grande revolta secular, o que não pode é rebentar com lojas e hotéis. E por aí fora. Os moçambicanos, para serem independentes, não precisaram de estoirar com um comboio na linha de Sintra.

Combater o terror não é fácil mas também não é a primeira vez que a Humanidade se confronta com o fenómeno. Todos os grupos populacionais viveram, ao longo da sua história, períodos de puro terror, porventura bem mais palpável e ameaçador que o sentimento que temos hoje do terrorismo. A diferença é que não havia canais globais para o propagar.

O problema, no mundo a que chamamos Ocidental, é que estamos muito mal armados para combater o terror. Não falo dos serviços de informação ou da policia, falo da maneira como lidamos com a morte. Fomos desenvolvendo – e bem – a ideia de indivíduo. Esta ideia, ausente nos povos primitivos onde o valor supremo era a sobrevivência da espécie, foi-se desenvolvendo passando por diversas fases – basta lembrar, por exemplo, o valor da vida humana na Idade Média – até acabar nesta ideia generalizada que devemos ser todos eternos, saudáveis e indestrutíveis e que a vida de cada indivíduo é mais importante que qualquer outro valor, inclusive a sobrevivência do grupo.
Esta evolução não tem nenhum mal em si – antes pelo contrário – mas coloca uma parte do grupo a que chamamos humanidade em desvantagem em relação a outro: não sabemos lidar com a morte, sobretudo a violenta.
Quando a morte advém de uma doença, uma parte de nós ainda tenta racionalizar e tenta compreender que afinal não somos eternos e que o Universo tem leis que não controlamos. Quando a morte é violenta, seja acidente, catástrofe natural ou terrorismo a incompreensão é total. Como entender que 191 madrilenos saíram de casa, depois de fazerem os gestos que todos fazemos todos os dias, a caminho das obrigações sociais que todos temos e, numa fracção de segundo, deixassem de existir enquanto indivíduos que pensam e falam?
Nesta nossa busca pelo indivíduo deixámos de lado o que permitia um certo equilíbrio: a religião. Obviamente que a religião não desapareceu do mundo ocidental, o que se esbateu foi a ideia de vida terrestre como transição para outra vida. Na impossibilidade de comprovar que existe uma vida para além da morte que seja melhor que esta, mal por mal, mais vale aproveitar a que temos e conhecemos. O resultado é a angústia e o medo de desaparecermos enquanto indivíduos e a “irracionalização” da morte por uma causa. Ao perder a fé, ao considerar os outros como indivíduos e não como um qualquer “povo de Deus” fiquei na impossibilidade de dar a vida por uma causa, matar uma pessoa ou aceitar a morte antes de tempo.
Ora o terror não tem esse problema. Ou considera que o indivíduo não tem qualquer importância como o faz a ETA ou como o fazia o IRA ou estão convencidos que a morte gloriosa pela causa é o passaporte para a vida eterna e um abreviar da passagem por este vale de lágrimas. O resultado é haver sempre quem esteja disposto a ir pelos ares levando consigo seres da mesma espécie. (O que não deixa se ser uma particularidade da espécie humana. O canibalismo existe noutras espécies animais, o suicídio por simpatia, não)

Em que ficamos então? Será a nossa “superioridade moral”: o combate ao terrorismo com a lei, a razão, a inexistência de pena de morte (pelo menos na Europa), capaz de vencer a irracionalidade e a falta de qualquer sentimento humano?
Talvez sim se soubermos resistir à chantagem. Se evitarmos o caminho mais fácil do “se fizermos o que eles querem deixam-nos em paz”. Se pusermos o medo de lado e enfrentarmos o crime terrorista pelo que é: um crime. Sem inventar explicações sociológicas que o legitimem. Porque não nos deixarão “em paz” até perceberem que o crime não compensa.
A chantagem não acaba no pagamento do resgate. Hoje é o Iraque, o Afeganistão, a Palestina. Amanhã será o que fazemos, o que vestimos, o que pensamos. O objectivo, aliás confessado, não é o Iraque, ou a vida dos palestinianos, ou mesmo o imperialismo americano, o objectivo é, em nome da religião – um detalhe – que o mundo viva como meia dúzia de criminosos entendem que se deve viver: sem vontade própria, sem pensar, amorfos, à espera de uma outra vida melhor para além da vida. Ao longo da história outros o tentaram. Falharam sempre. Felizmente.

:: enviado por U18 Team :: 3/11/2005 08:37:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
  • Han pasado 4 anos y medio desde el golpe de Estado del 11-M. Es urgente detener y llevar a juicio al principal responsable de esta masacre, el jefe operativo del CNI en esos dias. Era el numero dos pero quien tenia realmente el control del CNI. Este individuo probablemente siga en el mismo puesto hoy dia. Situacion inasimilable para cualquiera, que el principal criminal y su grupo intimo de operacionales de confianza, continuen dirigiendo mediante amenazas y coacciones ocupando el mando de los servicios secretos espanoles. El periodista de El Mundo, Fernando Lazaro, es uno mas de los plumillas con contactos en el CNI.Convendria que este redactor nos contase a que tipo de acuerdo inconfesable, a parte del jamon navideno, ha llegado con los hooligans del CNI para silenciar la cadena mafiosa de compra de voluntades que esta llevando acabo nuestros servicios secretos, para silenciar la masacre.
    Exigimos que no se tarde ni un dia mas en procesar y encarcelar al jefe operativo del CNI y sus 4 o 5 operacinales de confianza.

    Leopoldo Ridruejo Miranda

    De Anonymous Anónimo, em 20/10/08 10:39  
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