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domingo, setembro 18, 2005

Merkel e o eixo franco-alemão

A poucas horas do encerramento das urnas na Alemanha, a grande incógnita reside em saber que coligação Angela Merkel irá liderar: uma aliança CDU-FDP ou um grande centrão CDU-SPD? Em termos de política externa, três questões estão dependentes dessa incógnita: o futuro da União (tratado constitucional e orçamento), a questão da adesão da Turquia e o futuro do eixo franco-alemão.
As posições do SPD são a priori conhecidas, visto que estão actualmente no poder. Podemos no entanto perguntarmo-nos quais serão as suas margens de manobra e de autonomia no seio de uma grande coligação. Entre um SPD favorável à adesão turca e um CDU que lhe é hostil, um consenso parece difícil de conseguir. Embora seja provável que certas posições eleitorais sejam atenuadas em contacto com o poder. Sobretudo em caso de coligação.
Angie vai certamente apostar numa maior convergência com Washington e num consequente distanciamento de Paris. Não vai, por isso, querer desagradar aos americanos, já que o presidente Bush é favorável à aceitação da Turquia na União Europeia por causa da sua posição geopolítica estratégica.
Em caso de coligação CDU-FDP, o desvio em relação à política actual será certamente mais evidente. Wolfgang Gerhardt, presidente do grupo parlamentar do Partido Liberal e provável ministro dos Negócios Estrangeiros neste cenário, é favorável a uma nova versão da Constituição Europeia, menos volumosa. O começo de um plano B? Depois, em relação ao orçamento da União, é favorável à re-nacionalização parcial do financiamento da agricultura e a uma re-orientação dos dinheiros europeus para outras políticas. Nisso, parece estar mais próximo da linha defendida por Tony Blair do que daquela que defende Jacques Chirac. Sobre a Turquia, ao contrário do CDU, diz-se favorável a uma espécie de “parceria privilegiada”, em vez da adesão. O calendário começa a ser apertado já que não é certo que o novo governo possa estar pronto antes de 3 de Outubro, data prevista para a abertura das negociações de adesão.
Finalmente, sobre o eixo franco-alemão, não parece haver assim tantas diferenças fundamentais entre todos os partidos. Basta lembrarmo-nos que no início do seu segundo mandato, Gerhard Schroeder parecia discordar totalmente de Helmut Kohl sobre esse ponto (o que acabou por conduzir ao calamitoso Tratado de Nice), tendo-se depois aproximado de Paris, por razões eleitorais em 2002 – a famosa frente que rejeitou a intervenção americana no Iraque.
O eixo franco-alemão versão Chirac-Schroeder parece-se, de qualquer modo, mais com uma força defensiva do que com o elemento motor que chegou a ser no passado. Não se perderia muito com uma mudança de óptica sobre esse ponto.

:: enviado por JAM :: 9/18/2005 03:20:00 da tarde :: início ::
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