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domingo, janeiro 02, 2005

Nevoeiro, de Fernando Pessoa

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
 
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
 
É a Hora!

Com Nevoeiro, Fernando Pessoa foi repescar o mito sebastianista de que o Rei voltará numa manhã de nevoeiro e mostrou que, simbolicamente, nevoeiro era também a situação que se vivia em Portugal no momento em que escreveu. A conclusão de que o nevoeiro que se esperava não era, afinal, literal (físico) mas antes simbólico (social e político) permitiu-lhe acabar o Poema com a volta final ao gritar: É a Hora!.

Na esperança que o periodo de reflexão, que se aproxima, nos faça também gritar: “É a Hora!”, ouça, em Real Audio, este poema musicado por André Luiz Oliveira, na voz de Gal Costa.

:: enviado por JAM :: 1/02/2005 01:17:00 da manhã :: início ::
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