quinta-feira, dezembro 09, 2004
Revolução de fachadas em Tirana
É difícil não chegar à capital da Albânia sem ter, à partida, uma data de preconceitos na cabeça. O país não é seguro e está entregue às mafias, o poder é corrupto, pobreza e ódio são mais do que exacerbados pelos falhanços duma democracia balbuciante.
Parte destes preconceitos são verdadeiros, sobretudo quando somos acolhidos, à saída do avião, por militares desconfiados, temos que pagar uma taxa de 30 € para entrar no país e bandos de mendigos se colam a nós quando tentamos desesperadamente aceder a um taxi, quase sempre um velho mercedes a cair aos bocados.
Esta impressão começa a dissipar-se na estrada do aeroporto que serpenteia pelo meio dos olivais e, ao chegarmos àquela que poderia ser considerada a capital do terceiro mundo europeu, ficamos maravilhados com as construções modernas, ruas renovadas, espaços verdes e um nunca mas acabar de reconstruções e recuperações, em misturas cromáticas inconcebíveis, de verde alface, amarelo limão, vermelho vivo, laranja, violeta, rosa e castanho, toques de azul e alguns, raros, quadrados cinzentos.
Quando Edi Rama foi eleito para a Câmara em 2000, encontrou uma cidade “como uma garota doente”. “Dar-lhe cor não a curou da doença mas deu-lhe a coragem para lutar e para se levantar da cama”. Com a ajuda de financiamentos europeus, “reconstruiu a cidade, como se a vestisse de pijama”, como lhe dizem as más línguas. Apesar das reacções não serem unânimes, o projecto permitiu recriar uma relação entre a cidade e os seus 700.000 habitantes, dando-lhe uma visão humana que, com a ajuda de vários artistas e arquitectos, a transformou num museu a céu aberto, que mistura o pior da herança socialista com o melhor da arte contemporânea.
As traseiras destes prédios são, no entanto, ainda tão decadentes como os de Pnom-Pen ou Tananarivo: fachadas despidas, tijolos à vista, ruas deformadas e cheias de buracos.
É assim, em plena mudança, a Tirana barulhenta, sobreaquecida e poluída pelas dezenas de milhar de motores, movidos por uma gasolina adulterada e vendida em garrafas nas pequenas lojecas da cidade. Cidade turbulenta, animada e colorida.
:: enviado por JAM :: 12/09/2004 03:33:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Tira abandona o preto e branco e passa a colorir-se. Viva a liberdadeDe , em 10/12/04 12:55