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quinta-feira, setembro 14, 2006

A ONU, a NATO e o ÓPIO

Quando a América abriu a caça aos talibãs, foram muito poucos os afegãos que o lamentaram e houve mesmo muita gente que pensou que, agora que o país mais rico do mundo tinha decidido tomar conta do Afeganistão, estava aberto o caminho para a prosperidade. Começaram a imaginar-se escolas e dispensários a surgirem da terra, dezenas de estradas em construção e milhares de estrangeiros iriam aparecer, pensavam eles, com os bolsos cheios de dinheiro, prontos para relançar a economia do país. Para além disso, tinha acabado o terror.
As coisas mudaram, é certo, mas a América, tal como no Iraque, não desembolsou os dólares necessários para se poder recuperar o atraso. A desilusão depressa substituiu a esperança e, porque é preciso comer todos os dias, a cultura do ópio recomeçou em força, muito embora ― e aí reside o grande paradoxo ― o puritanismo e a repressão da era dos talibãs a tivessem praticamente erradicado.
O responsável pela luta mundial contra a droga, Antonio Maria Costa, exortou esta semana a NATO a “desmantelar os bazares de ópio e entregar à justiça os grandes traficantes”, mas o secretário geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte logo lhe respondeu que “a NATO não tem mandato de responsabilidade em matéria de luta contra a droga” e que o assunto seria da responsabilidade do governo de Cabul ― um governo que nem sequer é capaz de controlar a sua capital.
Como é que se explica esta recusa da NATO? Os talibãs estão, dia a dia, a renascer das cinzas e a NATO, que tem de facto cada vez maiores dificuldades em combatê-los, não vai ter tempo para se ocupar dos camponeses afegãos, sabendo que o ópio que produzem é o principal recurso usado por esses mesmos talibãs... para combater a NATO?

:: enviado por JAM :: 9/14/2006 04:12:00 da tarde :: início ::
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