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domingo, novembro 06, 2005

O Desenho Inteligente

« No princípio criou Deus os céus e a Terra. » — [Génesis 1:1]

O “desenho inteligente” é uma crença segundo a qual os seres vivos são tão complexos que a melhor explicação para a sua existência é que eles foram criados por algum tipo de força inteligente. Os seus defensores acreditam que a natureza apresenta sinais tangíveis de que foi desenhada por uma inteligência preexistente.
William Paley foi talvez o maior expoente dessa teologia criacionista, tendo desenvolvido argumentos e factos naturais para demonstrar a existência do Criador. Em 1802, Paley propôs a ideia do Relojoeiro Cego, que partindo do facto que a presença de um relógio nos leva a acreditar na existência de um relojoeiro (humano) criador, conclui que a complexidade e o engenho, quando servem um uso ou um fim, implicam forçosamente a presença de inteligência e de uma mente.
Na Natureza, a complexidade e o engenho ultrapassam de longe a exibida nos artefactos produzidos pelo desígnio humano, como o relógio, o que significa que essa complexidade orgânica só pode ser resultado do desenho de um criador infinitamente grande que, segundo Paley, tem que ser necessariamente Deus. Obtemos assim o tradicional argumento do desígnio ou desenho.
Cinquenta anos depois da tese de Paley, ao propor o mecanismo da selecção natural, Charles Darwin construiu uma teoria com a força explicativa e a coerência suficientes para fazer com que a teoria do Deus criador se tornasse obsoleta. Mas eis que em 1991, Phillip Johnson, um professor de direito americano, reavivou a teoria criacionista ao lançar um livro com o título “Darwin on Trial”, que sentenciou Darwin e o declarou culpado pela sua atitude “anti-científica e dogmática” e pelas implicações ateístas da sua teoria.
Mais tarde, num verdadeiro rasgo de sofisticação, Michael Behe em “Darwin's Black Box” e William Dembski em “No Free Lunch”, defendem que tem que haver um Criador inteligente por detrás da complexidade orgânica, que Behe qualifica como complexidade irredutível.
Segundo Behe, os sistemas que exibem complexidade irredutível, não poderiam surgir de acordo com a teoria da selecção natural, que usa o material e as características existentes nos organismos como matéria-prima para ao longo das gerações aperfeiçoar ou desenvolver novas funções. Ao invés, certas funções dos organismos possuem complexidade irredutível, o que implica que não poderiam ter surgido através da selecção natural, pois supostamente não são compatíveis com o desenvolvimento progressivo desta, mas sim de uma só vez e prontos a funcionar, pelo que a única forma de tal acontecer só pode ser através de um momento de criação.

Deveria parecer evidente para todos os seres vivos que tiveram a sorte de evoluir, ao nível de se tornarem seres inteligentes, que o mecanismo proposto por Darwin fornece de longe a melhor explicação para a existência e evolução dos organismos. Para os outros, os que persistem em utilizar a teologia como metáfora, deveria ser mais apropriado promover o estudo da filosofia como única forma de fazer um verdadeiro tratamento ontológico da questão.

:: enviado por JAM :: 11/06/2005 12:08:00 da manhã :: 2 comentário(s) início ::